NOTA DE FALECIMENTO

“Não há obra que se erga sem que na argamassa esteja misturado o suor do pedreiro.”

Com grande pesar, o Sereníssimo Irmão Kamel Aref Saab, Grão-Mestre do GOSP, comunica o falecimento do Ir.’. Daury dos Santos Ximenes, ex-Grão Mestre do Grande Oriente de Pernambuco, ocorrido na noite do último sábado p.p., 21 de dezembro, vitima de problemas cardíacos.

O Irmão Daury Ximenes foi Grão Mestre do Grande Oriente de Pernambuco, e um imenso apoiador da nossa Desfederalização, estando presente na vitoriosa assembléia de 15/09.

O sepultamento ocorreu no Cemitério e Crematório Memorial Guararapes , em Jaboatão, dia 22/12, às 16:00h.

Que o GADU console sua Família.

http://gosp.org.br/nota-de-falecimento-11/

A Meta Secreta dos Templários

O ocultismo da Ordem a descoberto


Quem eram realmente estes cavaleiros? O que buscavam ao  escolher tão rigorosamente a localização dos seus castelos? O que ocultavam com tanto afã? Qual era a sua missão?

Autênticos motores da evolução espiritual da Idade Média e antecessores ocultos de uma arquitetura mágica, o gótico, os templários são o elo fundamental de um intrigante processo que começa na noite dos tempos e chega até os nossos dias.

Pensar em escrever alguma coisa, por mais superficial que fosse, sobre a aventura templária na península ibérica, poderia parecer hoje um empreendimento sem sentido, tanto pela carência de informação que temos em torno dos seus cerca de duzentos anos de assentamento, como pela escassa ou quase nula importância que os historiadores em geral concedem à sua eventual influência, no advento histórico e cultural dos reinos espanhóis da Idade Média. Os cavaleiros do Templo foram para a investigação histórica – em geral – um mero acidente, uma espécie de cisto de origem estranha, incrustado, quase que por acaso, entre uns acontecimentos nacionais, sobre os quais nunca chegaram a influir decisivamente.

Cruz da Ordem de Alcântara
Na hora de analisar o papel exercido pelas ordens militares na política e no processo de expansão destes reinos que compunham o mosaico peninsular, a história se aprofunda nas ordens nascidas em seu seio: Calatrava, Alcântara, Santiago, Sant Jordi d´Alfama em Tarragona, a de Montgaudí em Extremadura, a de Montesa em Valencia e a de Cristo em Portugal. Mas não parece abordar na prática que as primeiras foram criadas precisamente para funcionar como um escudo político, de raiz nacional, sob influência de templários e hospitalários, cuja importância vinha avalizada por um autêntico carisma solidamente fundamentado por sua atuação do outro lado do Mediterrâneo: nada menos do que a chamada Terra Santa, meta de todo o sentimento religioso medieval. Quanto às outras ordens, se esquece ou se ignora com demasiada facilidade que a de Montgaudí foi incorporada ao Templo em 1196 e que as de Montesa e a de Cristo foram criadas expressamente para acolher os cavaleiros templários – e todos os seus  bens territoriais – quando a ordem foi suspensa pela bula vox in excelso, publicada pelo papa Clemente V no concílio de Viena, em 3 de abril de 1312.

Por falar em esquecimento ou algo parecido como “ passar por cima” , observamos que os historiadores não abordam os motivos que teriam levado Alfonso I, o batalhador, a doar toda a herança dos seus reinos às ordens militares do Templo e do Hospital. Nem se pensa na verdadeira causa do assentamento dos templários em um Portugal que lutava por sua independência, antes mesmo de ser a ordem reconhecida oficialmente pelo concílio de Troyes em 1128.

Nem sequer parece perceber-se que a presença templária na península coincide exatamente com os anos de avanço máximo da reconquista, com a época de mais sólido assentamento dos governos, com o tempo de maior estabilidade política e com o momento de maior interesse cultural em todas as correntes da arte e do pensamento.

Felipe IV, o Belo
A história continua ignorando que enquanto na França – berço natural dos templários – os membros da ordem eram encarcerados, torturados, queimados e injuriados, em toda a península se fez caso omisso da fúria revanchista de Felipe IV, o Belo, e se cumpriu a ordem de Roma com dois processos oficiais – em Salamanca e em Tarragona – que simplesmente declararam os templários totalmente limpos de pecado e de infâmia, tendo sido decretado que os cavaleiros fossem respeitados, que se facilitasse o seu ingresso em outras ordens, militares ou monásticas, sempre que este fosse o seu desejo e a sua vontade.

Os estudos históricos continuam obedecendo, em geral, a um racionalismo que os congelam e os desumanizam. É como se a história não admitisse perguntas sem respostas. O ortodoxo é encontrar – ou fabricar – os fios que movem o ser humano como uma marionete. E quando tudo está atado e bem atado mover os fios, fazendo com que os bonecos sigam o caminho previamente marcado. Pobre do boneco que saía do caminho traçado! Seria relegado ao esquecimento ou se produziria para ele uma razão gratuita para justificar a sua rebeldia. Assim, tudo resultará harmônico, ortodoxo; tudo será assim porque teria que ser assim, porque as respostas são anteriores aos problemas, porque não é permitida uma pergunta cuja resposta não tenha sido anteriormente estabelecida.

 Recuso-me redondamente a admitir tudo aquilo que se toma por dogma irremovível, porque creio que, se o ser humano é capaz de evoluir, essa evolução não é provocada pelos que consentem, mas pelos que negam e perguntam e nunca estão de acordo nem com os que lhes ordenam a crer nem com o que lhes dita a sua própria razão secularmente programada.  


Escudo templário
Para mim a história dos templários não é, de modo algum, uma aventura isolada que começa e termina com eles. Os templários são mais uma peça – fundamental, apesar da brevidade de sua existência oficial – de um imenso jogo histórico que tem propiciado a evolução humana, ao buscar as raízes remotas e desconhecidas, mas nem por isso menos certas – em que se assenta o inconsciente coletivo do homem. A história da evolução tem sido, no fundo, uma história de penetração no passado que tem permitido, embora pareça paradoxal, os saltos culturais sucessivos para o futuro. De certo modo tem sido a negação do tempo, como elemento determinante do progresso e até da vida – individual ou coletiva – do homem.

Tratarei de me explicar. A história do pensamento humano é a história da própria evolução. Entretanto, essa evolução nunca tem acontecido sem a intervenção de uma série de fatores radicados na trama dos conhecimentos e dos saberes que o ser humano carrega desde a sua própria origem. Essa intervenção do passado tem sido sempre intuitiva; tem sido baseada em sinais que a memória tem estereotipado, privando-os externamente dos seus verdadeiros significados. Somente aqueles que têm se negado a admitir a aparente banalidade dos símbolos remotos e reconhecido o seu caráter de mensagem cifrada conseguiram avançar até o futuro, precisamente porque se aprofundaram no ontem e rejeitaram a sua evidente obscuridade, negando-se a aceitá-la como uma amostra de magia irracional.

Decifrar os símbolos é penetrar na mensagem essencial do homem. Porque o homem vive – ontem, como hoje e amanhã – para dar significado ao seu conhecimento; isto é, para universalizá-lo. No fundo, os símbolos e somente os símbolos são palavras, ditas ou escritas. E quando as palavras não bastam para expressar os graus superiores do saber – porque a linguagem é fundamentalmente pobre e limitada – o homem recorre, às vezes até sem o saber, aos símbolos universais, que têm sido exotéricos ou esotéricos, segundo a sua compreensão imediata tenha estado ao alcance de uma maioria crente ou de uma minoria consciente.

Templários conduzidos à execução
De certo modo – e isto tem sucedido sempre, para a desgraça da História – o homem crente tem constituído a grande massa que se tem deixado arrastar, por medo ou por esperança de recompensa, pelos sucessivos dogmatismos oficiais que têm ordenado a seu gosto e capricho a marcha do mundo. De certo modo também – e isto nem sempre -, a minoria consciente tem formado um núcleo de proscritos e condenados, porque se atreveram a enfrentar, apenas com a força de sua necessidade de conhecimento, os preceitos estabelecidos pelos setores que detêm o poder e baseiam a manutenção do poder na ignorância e na obediência cega às normas estabelecidas.

Os templários fizeram parte dessa minoria consciente. Mas, ao longo dos quase duzentos anos de existência da ordem, souberam jogar exotericamente as cartas do poder econômico e guerreiro, assim como desenvolveram uma indubitável visão política das monarquias, para conseguir um grau de liberdade de ação que outros grupos paralelos jamais puderam alcançar. Com seu status político, influíram em favor de sua própria busca e tiveram, inclusive, a sorte de saber se manter fora de um primeiro plano de atenção, para adentrarem-se melhor nos ângulos de um rastreio em que, muito possivelmente, lograram avançar muito mais do que as aparências históricas nos permitem supor. Porque, pelo menos, chegaram ao final dessa viagem de ida e volta que supõe o grande ciclo da evolução do conhecimento humano.

O Templo foi criado, como tal ordem, no oriente. Mas foi criado ali, conscientemente, por enviados especiais do ocidente que iam à Terra Santa em busca das fontes ancestrais do conhecimento, conhecidas – ou melhor, suspeitadas – através do simbolismo crítico dos livros sagrados. Uma vez ali, embebidos das raízes ainda mais remotas dessas fontes que buscavam, graças ao contato com grupos paralelos muçulmanos e judeus, continuaram sua busca em terras onde teriam de encontrar as origens daquele saber bíblico que já haviam captado. Com toda a força de sua potência econômica e militar, se assentaram novamente no ocidente de onde haviam partido e, nele, foram conseguindo sistematicamente a posse daqueles territórios nos quais, sob as diversas aparências, encontravam-se as chaves primeiras – e as últimas – de sua busca. Lugares de cultos remotos, encruzilhadas de encontros seculares de crenças, enclaves considerados como mágicos por aqueles que eram capazes de entrever a sua realidade, tudo isto constituiu as metas secretas dos monges do Templo.

Basilica del Pilar, Zaragoza, Aragon
Esses enclaves que continham a mensagem buscada não reconheciam fronteiras territoriais. Estavam, simplesmente, no ocidente: em Aragon, na Catalúnia, em Castilla, em Provenza, em Navarra, em Leon, na Bretanha, em Portugal, na Irlanda. Estavam em lugares de velhas tradições esquecidas, em pedras misteriosamente esculpidas, em montes e fontes que ainda conservam para o povo o caráter mágico sacralizado desde as origens. Estavam nas formas especiais de conceber a estrutura dos templos e nas formas insólitas de venerar os mortos. Estavam inclusive em pontos muito especiais nos quais, desde sempre, ocorriam feitos anormais que eram alternativamente considerados como milagrosos ou como obra dos espíritos do mal.

Os templários, assim como outros ocultistas, sabiam que existe uma realidade que nada tem a ver com o bem supremo nem com o mal mais abominável, embora seja atribuída a um ou ao outro, segundo a circunstância dominante. O fundo dessa realidade é o conhecimento, um conhecimento em que o homem penetra poucas vezes, e quando o faz é invariavelmente tachado de santo ou de diabo, sem que chegue a ser nem uma coisa nem outra, apenas um ser essencialmente humano.

Os templários estabelecidos na península buscaram sem tréguas esse saber e esses lugares. Lutaram militar e economicamente para alcançá-los e, quando os tiveram em seu poder,  defenderam-nos até com sacrifício de sua própria segurança e sobrevivência. E havia algo neles que justificasse sua defesa, porque chegado o momento de sua extinção por ordem superior da igreja, enquanto na França os monges se entregavam sem opor a mínima resistência, em vários enclaves peninsulares – Monzón, Cantavieja, Jerez de los Caballeros, Miravet – encastelaram-se, desobedecendo as ordens reais e eclesiásticas, dispostos em muitos casos a defender até a morte o que ali haviam encontrado, coisa que não chegou a acontecer.

Catedral de Toledo, sec IV
Não tenho a pretensão de fazer aqui uma história dos templários peninsulares. O propósito é, em parte, estudar seus enclaves e as circunstâncias mágicas que os envolviam, em uma busca do por quê daqueles lugares especiais. Por outra parte, desentranhar, ainda que parcialmente, a evolução arquitetônica da Idade Média peninsular, que contém toda uma chave do conhecimento que ultrapassa os limites estritos da arquitetura, para expressar, através dela, a realidade de um universo de símbolos superiores, que só a matemática mágica dos templários podia conter.

Neste sentido, é lógico tomar por certa a influência que pode ter a Ordem do Templo sobre a evolução esotérica das formas arquitetônicas. É verdade que, carregados de uma série de princípios básicos do conhecimento superior, compreenderam com bom critério que somente através da edificação de templos poderia o homem transmiti-los aos que fossem capazes de apreendê-los. E isto por duas razões. A primeira, puramente material, porque a pedra tem maior probabilidade de manter-se incólume ao longo do tempo do que a madeira, o ferro ou o papel. A segunda, porque sendo em princípio o templo a casa que o homem dedica ao ser superior, a sua divindade, é lógico que contenha em si mesmo, desde o planejamento estrutural até o último detalhe de sua construção, todo o acúmulo de saberes e de crenças que o ser humano pode oferecer em seu desejo de acercar-se de sua origem e de fazer-se realmente digno dela e de sua razão de ser.

Catedral de Notre Dame de Reims, séc. XIII
É possível – porém, infelizmente, pouco ou nada documentalmente provável – que os templários tenham contribuído, no terreno econômico e material, para o grande boom das catedrais dos séculos XII e XIII. Não há provas diretas dessa contribuição. Entretanto, é certo que mantiveram estreitas relações com as lojas de construtores e que transmitiram aos mestres canteiros uma série de módulos simbólicos, que logo se refletiriam nos grandes templos populares do ocidente. Com eles se tratava de fazer chegar ao homem – ao povo – a intuição do conhecimento que até então se havia mantido fechado entre os muros das abadias e dos mosteiros.  Tratava-se também de colocar esse povo, consciente ou inconscientemente, de cara com a realidade superior representada nos símbolos, para que estes, convertidos em atos, em ritos ou em costumes, atuassem sobre ele e influíssem em sua vida individual e coletiva.

Os templários, pois, adquiriram um conhecimento, assimilaram-no, deram a ele um significado e logo o transmitiram. A brevidade da sobrevivência da ordem impediu que esse conhecimento chegasse a superar a realidade dimensional do tempo, porém foi, em muitos aspectos, uma semente que deu seus frutos onde encontrou terra fértil para frutificar. Em alguns lugares – certamente uma maioria – os poderes estabelecidos cuidaram de apagar de imediato toda marca que pudesse assinalar a presença templária, negando seu apoio ao progresso cultural enquanto a ordem existiu. Em outros enclaves, embora restrita e de certo modo subterrânea, a obra templária continuou em seus herdeiros e gravou determinados feitos  marcantes de conhecimento e esplendor. No primeiro caso se encontra Castilla. 


Ordem de Cristo, representação antiga
No segundo, Portugal, onde a benevolência para com a ordem extinta permitiu que muitos templários do resto da Europa e até da própria península buscassem refúgio na Ordem de Cristo, recém criada para eles. Como conseqüência de longo prazo desta benevolência, no lado exotérico, veio a criação da Escola de Sagres, que reuniu os maiores conhecimentos cosmológicos de seu tempo e propiciou o auge das explorações ultramarinas lusitanas. No campo do esoterismo, temos o surgimento da insólita experiência da arquitetura manuelina, em que, muito além da exacerbação barroca de um gótico tardio, se encontra a mais multicolorida linguagem simbólica que foi possível se expressar em pedra ao longo dos tempos.

Ainda há, porém, algo mais que vem marcado pelas pegadas templárias, algo que as casualidades nunca poderiam justificar e que, a meu modo de ver, está condicionado precisamente pelo grau de conhecimento superior que alcançaram os templários. Se fizéssemos uma contagem dos lugares onde nos últimos séculos ocorreram fenômenos insólitos e incompreensíveis, do tipo mágico-sagrado, tais como aparições virginais, curas milagrosas, visões de óvnis, danças solares e histórias religiosas coletivas, descobriríamos  que, em porcentagem elevada, há antigos enclaves templários – castelos, capelas e mosteiros – nas imediações.

Essa realidade supera os limites restritos da cronologia e até as razões aparentes da história. Existe – não tenho a menor dúvida – uma relação, digamos que mágica, que cavalga por sobre o tempo e o converte em um puro capricho no jogo cósmico das dimensões.

São Bento de Núrsia, monge fundador
da Ordem Beneditina
Os templários, assim como a ordem beneditina e outros grupos de ocultistas que faziam investigações livres, conheciam ou pelo menos tinham razões para intuir a realidade paranormal de determinados lugares, muitos séculos antes de que tal realidade se fizesse patente. Mas eles sabiam que esses feitos, tanto os sucedidos como os previstos, não eram milagre divino nem diabólico, mas amostras de uma suprarrealidade cujas razões estavam expressas nos sinais cifrados da sabedoria antiga. Conhecedores dessas mensagens, ou pelo menos desconfiados de sua importância, cuidaram de vigiar atentamente aqueles enclaves, ocupando-os e estudando as suas características. Possivelmente durante a existência da ordem nunca se fizeram patentes os prodígios, mas o germe dessa outra realidade já estava ali, como que esperando o instante propício para manifestar-se em aparente prodígio.

O simples fato de buscar hoje os lugares da aventura templária peninsular é, em si, a aventura apaixonante de uma busca no terreno do insólito. A sombra fantasmagórica dos monges iniciados está entranhada em seus velhos enclaves arruinados e continua transmitindo a mensagem que nunca chegaram a tornar pública, mas que confirmaram com sua presença.

Madrid, fevereiro de 2007